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O DEUS DO REFUGIO: O DEUS QUE FAZ


A maioria dos leitores das Escrituras conhece o Salmo 46. Quem nunca leu este belo Salmo? Convido você, prezado leitor [a] a mergulhar neste Salmo comigo, e ver a profundidade que encontramos nele. Um dos “segredos” de uma boa exegese de um texto, é conhecer o sentido histórico em que o texto foi escrito. Quando sabemos o que se passava quando o texto foi escrito, falamos com muito mais propriedade e segurança, trazendo luz e entendimento aos ouvintes.

Há um consenso entre os estudiosos que este salmo serviu de inspiração para o hino “Castelo Forte é Nosso Deus”, composto por Martinho Lutero. Há uma possibilidade muito grande que o contexto histórico em que foi escrito este salmo, seja a ocasião em que Deus livrou Jerusalém dos assírios no tempo do rei Ezequias (II Rs 18-19; II Cr 32; Is 36-37). Será bastante proveitoso ler estes textos para um melhor entendimento deste salmo.

O rei Ezequias era poeta, e é possível que tenha escrito não apenas este salmo, mas também o 47 e o 48, provavelmente no mesmo contexto histórico, onde a vitória do Senhor é celebrada sobre o inimigo.

1) Deus É nossa fortaleza – (Sl 46.1-3) – a palavra traduzida por “refúgio”, no verso 1, significa “um abrigo, uma rocha de refúgio”, enquanto essa mesma palavra, nos versos 7 e 11, quer dizer “um baluarte, uma torre alta, uma fortaleza”. É isso que Deus estava dizendo para o povo: “Quando o inimigo vier, Eu serei o vosso abrigo, serei uma rocha, é como se o povo, estivesse escondido dentro da rocha, num lugar inatingível!” Os dois termos declaram que Deus é um refúgio confiável para seu povo quando tudo ao seu redor parece estar desmoronado (Sl 61.3; 62.7,8; 142.5). Mas Ele não nos protege a fim de nos mimar. Não. Antes, abriga-nos a fim de nos fortalecer para que voltemos à vida com suas responsabilidades e perigos.

A palavra “tribulações” refere-se a pessoas em lugares apertados, encurraladas num canto e incapazes de sair dessa situação. Veja que estratégia maligna dos exércitos assírios, eles queriam encurralar o povo de Deus, deixarem sem recursos para uma saída. Talvez, você leitor [a] se encontra nessa mesma situação, em que o inimigo quer te encurralar, lhe deixar à mercê de seus ataques. Mas a Palavra de Deus para estas situações é: “Não temas!”. Quando os oficiais assírios ameaçaram Jerusalém, Isaías disse ao rei: “Não temas por causa das palavras que ouviste” (II Rs 19.6). Esta é a palavra de Deus para você. Talvez você não veja o livramento, tudo parece perdido, o inimigo se agiganta, mas ouça a Palavra de Deus – “não temas!” A terra pode mudar, as montanhas podem ser arremessadas violentamente no mar, podem vir terremotos e maremotos, mas todas as coisas estão sob o controle de nosso Deus. Ele é nossa fortaleza e nosso refúgio em meio às incertezas da vida.

2) Deus Está no meio – (Sl 46.4-7) – A cena seguinte mostra Jerusalém, onde o povo encontrava-se sitiado pelo exército assírio. A água era um bem precioso na Palestina, especialmente em Jerusalém, uma das poucas cidades da Antiguidade não construída à beira de um rio. Ezequias havia usado de sabedoria e construído um sistema subterrâneo de abastecimento que ligava os mananciais de Giom, no vale de Cedrom, ao tanque de Siloé, dentro da cidade, de modo que havia água disponível (II Rs 20.20; II Cr 32.30). Que fantástico! Ezequias estava querendo dizer: “Ainda que ele [inimigo] corte nosso suprimento de água, e aí, poderia ser caracterizada a derrota do povo de Jerusalém, Ezequias diz:” Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo”. O poeta sabia que Deus era o seu rio, aquele que supre a água da vida (Sl 36.8; 65.9; 87.7 e Jo 7.37-39). No tempo do rei Acaz, Isaías comparou uma invasão dos assírios a um rio transbordante, mas lembrou o povo que seu Deus era como um rio tranqüilo (Siloé) que lhes traria a paz (Is 8.1-10).

O verso 5 diz: “Deus está no meio dela” – ainda que eles estivessem encurralados, sem saída, o Deus Eterno está no meio dela. Ou seja, ninguém os derrotaria, pois Deus era aquele que comandava tudo!

Sem dúvida, Jerusalém era uma cidade santa, separada por Deus, e que abrigava seu santuário, mas isso não era garantia alguma de vitória (Jr 7.1-8). A fim de que o Senhor os ouvisse e salvasse, o rei e o povo precisavam voltar-se para o Senhor com uma atitude de contrição e fé – foi o que fizeram. Deus socorreu Jerusalém quando o dia amanheceu (“desde antemanhã”; vs 5), pois o Anjo do Senhor matou 185 mil soldados assírios e mandou Senaqueribe de volta para casa (Is 37.36).

3) Deus faz cessar a guerra (Sl 46.8-11) – a terceira cena mostra os campos ao redor de Jerusalém, em que os soldados assírios estão mortos, suas armas e equipamentos espalhados e quebrados. Não havia ocorrido batalha alguma, mas o Anjo do Senhor deixara esses vestígios, a fim de estimular a fé do povo de Deus.

Vinde, contemplai as obras do Senhor, que assolações efetuou na terra” (vs 8). O Senhor derrotou e desarmou seus inimigos e destruiu suas armas, de modo que não podiam mais atacar.

Aquietai-vos” quer dizer, literalmente: “Não mexam em nada! Descansem!”. Nós gostamos de “mexer em tudo” e de dirigir nossa vida a nossa maneira, mas Deus é Deus, enquanto nós não passamos de servos do Senhor. Pelo fato de Ezequias e de seus líderes terem permitido que Deus fosse Deus, Ele os livrou de seus inimigos. Foi assim que o rei Ezequias orou: “Agora, pois, ó Senhor, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o Senhor Deus” (II Rs 19.19).

O Senhor chama a si mesmo de “Deus de Jacó”, e lembramos como Jacó meteu-se em apuros em várias ocasiões por tentar intervir nas circunstâncias e fazer o papel de Deus. Há um momento certo para obedecer a Deus e agir, mas até que chegue essa hora, devemos deixar Ele trabalhar livremente, a seu tempo e a seu modo. Em outras palavras, deixe Deus ser Deus em
sua vida.

Presbítero Andrei Ricardo.

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SOFRIMENTO, BENÇÃO OU MALDIÇÃO?


“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar”. II Coríntios 12.7

“Regozijo-me agora no que padeço [sofro] por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições [sofrimentos] de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” – Colossenses 1.24

Vivemos em uma geração que não gosta de sofrer. Você pode perguntar a qualquer pessoa, o que ela [e] mais deseja nesta vida é: ser feliz. Nossa sociedade consumista, hedonista, e relativista é amante de coisas superficiais, banais e triviais.

Falar de sofrimento nos dias atuais está fora de moda. Nós queremos o sucesso, a glória, a fama. Sofrimento, não! E como o texto acima nos mostra, sofrer por Jesus, ou pela causa do Evangelho, deve ser coisa de gente louca, que não ama as coisas boas deste mundo.

Paulo no texto de II Coríntios 12, ele vem do êxtase [paraíso] para o sofrimento. Ele faz uma transição das visões celestiais para o espinho na carne. Não abordaremos neste texto o que é o espinho na carne de Paulo. Iremos focar no sofrimento como um instrumento de Deus para nos aperfeiçoar.

Prezados leitores não há vida indolor. É impossível passar pela vida sem sofrer. Vivemos em mundo caído, onde as angústias, dores, decepções, lutos, perdas, fazem parte de nossas vidas enquanto estivermos aqui.

O sofrimento é inevitável. O sofrimento do apóstolo Paulo é tanto físico como espiritual. O espinho na carne impediu que Paulo inchasse ou explodisse de orgulho diante das visões e revelações do Senhor. O sofrimento nos põe no nosso devido lugar. Ele quebra nossa altivez e esvazia nossa pretensão de glória pessoal.

Ao mesmo tempo em que o mensageiro de Satanás infligia sofrimento ao apóstolo, esbofeteando-lhe com golpes terríveis, Deus tratava com seu servo, usando esta estranha providência, para o manter humilde. Satanás tinha a intenção de esbofetear Paulo, Deus tinha a intenção de aperfeiçoar o apóstolo.
O sofrimento levou Paulo à oração. O sofrimento nos mantém de joelhos diante de Deus para nos pôr em pé diante dos homens. Dr J.I. Packer diz: “Se eu passar quarenta anos orando a Deus e não tiver nenhuma resposta, já terá valido a pena, pois passei quarenta anos em comunhão com Deus, na dependência Dele”.

Paulo pediu a Deus substituição [tirar o espinho], mas Deus lhe deu transformação. Deus não removeu sua aflição, mas lhe deu capacitação para enfrentá-la vitoriosamente. Muitas vezes oramos a Deus pela cura de um câncer, de uma hepatite, e parece que Deus não nos ouve. Eu irei lhes falar quem tem mais fé: não é a pessoa que é curada da pior doença que existe. Não. É aquela [e] que mesmo na pior doença continua firme, fiel e servindo ao Senhor! Aleluia!

Conta-se que um pastor, foi visitar outro companheiro de ministério nas últimas horas no leito do hospital. Ao chegar lá, entrou para ver o amigo de longos anos de amizade, pastorado e ministério. Falou com ele por alguns instantes. Então disse: vamos orar para que Deus lhe tire daqui. Ele é poderoso, e pode te curar agora. Quando ia começar a oração, este homem de Deus disse: Caro amigo, eu pensei que quando chegasse o dia da minha morte, eu iria para o céu. Mas agora sei, que é o contrário – é o céu que veio me buscar. Estou preparado! Que fé inabalável!

A graça de Deus é melhor que a vida. A graça de Deus nos capacita a enfrentar vitoriosamente a morte. A graça de Deus é o tônico para a alma aflita. A graça de Deus é a provisão Dele para tudo o que precisamos, quando precisamos.

Permita-me deixar algumas preciosas lições de como lidar como o sofrimento:

1) O sofrimento é pedagógico – A dor sempre tem um propósito, mais que uma causa. Deus não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. C. S Lewis disse: “Deus sussurra em nossos prazeres e grita em nossas dores”. Se Deus não remove o ‘espinho’ é porque Ele está trabalhando em nós para, depois, trabalhar por meio de nós.

2) Há um propósito divino em cada sofrimento (II Co 12.7) – Há um propósito divino no sofrimento. No começo desta carta (II Co 1.3) Paulo diz que o nosso sofrimento e a nossa consolação são instrumentos usados por Deus para abençoar outras pessoas. Na escola da vida, Deus está nos preparando para sermos consoladores.

3) É possível que Deus revele o propósito do sofrimento – No caso de Paulo, Deus decidiu revelar-lhe a razão do “espinho”: evitar que o apóstolo ficasse orgulhoso. Não é raro Deus revelar as razões do sofrimento. Por outro lado, é possível também, que Deus não nos dê explicações diante do sofrimento. Foi o que aconteceu com o patriarca Jó. Ele perdeu seus bens, filhos, saúde, o apoio de sua mulher e de seus amigos, e diante de todos os seus questionamentos, nenhuma explicação lhe foi dada. É esse o nosso “dilema” ao lermos o livro de Jó. Você lê o livro e não encontra uma resposta para todo este sofrimento. Aprendemos algo lindo, Deus não nos dá explicações. Ele nos dá promessas. Deus restaurou a sorte de Jó, mas não lhe disse a razão do seu sofrimento.

4) Pode ser que Deus decida que é melhor não remover o sofrimento (II Co 12.9) – Penso que este é o teste mais difícil. Quantas vezes nós já pensamos e falamos: “Senhor por que estou sofrendo? Por que o Senhor ainda não agiu?” Fanny Crosby ficou cega com 42 dias e morreu aos 92 anos de idade sem jamais perder a doçura. Escreveu mais de 4000 hinos. Se Deus não remover o sofrimento, Ele nos assiste em nossa fraqueza, consola-nos com sua maravilhosa graça. Ele é o Deus de toda graça (I Pe 5.10).

5) A “chave” para crescermos nos sofrimentos é vê-los em função do amor de Cristo (II Co 12.10) – Paulo sofria por amor a Cristo. Sua vida era para glorificar a Cristo. Para Paulo, o que importava era agradar a Cristo, servir a Cristo, tornar Cristo conhecido. Deus pode usar o nosso sofrimento para a glória Dele. Paulo diz aos filipenses que as coisas que aconteceram contribuíram para o progresso do evangelho (Fp 1.12).

6) O sofrimento é passageiro – O sofrimento deve ser visto à luz da revelação do céu, do paraíso. O sofrimento no tempo presente não é para se comparar com as glórias do por vir a serem reveladas em nós (Rm 8.18). A nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, eterno peso de glória (II Co 4.14-16). Aqueles que tem a visão do céu são os que triunfam diante do sofrimento. O sofrimento é por breve tempo, mas o consolo de Deus é eterno. A dor vai passar; o céu jamais! Aqui neste mundo temos lutas, decepções, lutos, enfermidades. A caminha pode ser difícil. O caminho é estreito. O espinho na carne pode doer. Mas a graça de Cristo nos basta. Em breve estaremos como Senhor, e todas as nossas lágrimas serão enxugadas. Que seja assim. Amém!
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