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ANO DA CRUZ DE CRISTO!

“Jesus bradou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” Lc 23.46

Prezados leitores [as], a cada dia vemos o evangelho se transformando num produto, a igreja em um mercado, o púlpito em um balcão e os crentes em consumidores das bênçãos de Deus. Vemos com muita tristeza o empobrecimento dos púlpitos. Pregadores discursam seus sermões centrados no antropocentrismo e na autoajuda.

A cada entrada de ano, algumas igrejas estabelecem qual ano será: o ano de José, o ano de Abraão, ano de Samuel, ano de Gideão etc. Eu me pergunto: Quando teremos o ano da cruz de Cristo? Quando teremos o ano da pregação pura, bíblica e cristocêntrica? Quando teremos o ano do verdadeiro evangelho? Quando teremos o ano da volta às Escrituras? São perguntas que parecem simples, mas que deveria causar em nós verdadeiro arrependimento e quebrantamento.

Voltando ao texto de Lucas 23.46, percebemos algo profundo. Nenhum dos 4 evangelistas disse que Jesus “morreu”. Eles parecem ter deliberadamente evitada a palavra. Não querem dar a impressão de que no fim a morte o reclamou e Ele teve de se render à sua autoridade. A morte não o reclamou como sua vítima; Ele a capturou como vencedor sobre ela.

Os evangelistas usam entre si quatro expressões diferentes, cada uma delas colocando a iniciativa no processo da morte de Jesus em suas próprias mãos. Marcos diz que ele “com um alto brado, expirou” (Mc 15.37) e Mateus afirma que ele “entregou o espírito” (Mt 27.50), enquanto Lucas registra suas palavras: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Todavia, a expressão de João, no entanto, é o mais contundente, a saber, que Ele “curvou a cabeça e entregou o espírito” (Jo 19.30). O verbo usado aqui no original é paradidomi, que foi usado por Barrabás, pelos sacerdotes, por Pilatos e pelos soldados que “entregaram” Jesus.

Agora João o coloca nos lábios do próprio Jesus, que entrega o espírito ao Pai e o corpo à morte. Notemos que antes de fazer isso ele “curvou a cabeça”. Não que Ele tenha primeiro morrido e então sua cabeça tenha caído sobre o seu peito. Foi o contrário. O curvar a cabeça foi seu último ato de entrega à vontade do Pai. Assim, em palavra e em obra (ao curvar a cabeça e ao declarar que estava entregando o espírito), Jesus afirmou que a sua morte foi um ato voluntário seu.

Jesus poderia ter escapado da morte no último minuto. Como disse no jardim, Ele poderia ter convocado mais de doze legiões de anjos para resgatá-lo. Poderia ter descido da cruz, como os que dele zombavam o desafiaram a fazer. Mas Ele não fez isso. Por sua livre e espontânea vontade Ele se entregou à morte. Foi Ele quem determinou a hora, o lugar e o modo de sua partida.

As duas últimas palavras da cruz (“está consumado” e “entrego o meu espírito”) proclamam Jesus como vencedor sobre o pecado e a morte. Devemos vir humildemente à cruz, merecendo nada a não ser o juízo, implorando por nada a não ser a misericórdia, e Cristo nos libertará do pecado e do pavor da morte.

Nele, o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
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