;

.

OS 5 DEGRAUS DA RESTAURAÇÃO DE PEDRO

Na postagem anterior analisamos os 4 degraus da queda de Pedro, agora estudaremos sobre os 5 degraus da sua restauração. Pedro caiu por agir por si mesmo; Pedro foi restaurado quando se voltou para o Senhor. Só de nós vem a nossa ruína; só do Senhor, a nossa restauração. Caminhe comigo e vejamos os passos que Pedro deu rumo à restauração.

1. O olhar penetrante de Jesus (Lc 22.61)

Jesus olhou para Pedro exatamente no momento em que ele estava negando, jurando e praguejando, insistindo em dizer que não conhecia Jesus. Os olhos de Jesus penetraram na alma de Pedro e radiografaram as mazelas do seu coração. Aquele foi um olhar de tristeza, mas também de compaixão. Quando Jesus olhou para Pedro, este se lembrou da palavra do Senhor e, ao lembrar-se dela, encontrou uma âncora de esperança e o caminho de volta para a restauração.

O olhar de Jesus é cheio de ternura e misericórdia. Basta um olhar dele, e toda a dureza de nosso coração se derrete. Seu olhar penetra as câmaras mais interiores da nossa vida. Seu olhar produz em nós arrependimento para a vida. Seu amor nos traz de volta para o verdadeiro sentido da vida.

2. O choro amargo pelo pecado (Mt 26.75; Lc 22.62)

Os evangelistas nos informam que Pedro, saindo dali, chorou amargamente (Mt 26.75; Lc 22.62) e, caindo em si, começou a chorar (Mc 14.72). Logo que as lágrimas do arrependimento rolaram pelo rosto de Pedro, seus pés se apressaram a sair daquele ambiente. Pedro deu quatro passos rumo à restauração: 1) caiu em si; 2) saiu dali; 3)começou a chorar; 4) chorou amargamente. O choro do arrependimento desemboca na alegria do perdão.

Pedro não chorou o choro do remorso, nem verteu as lágrimas da dissimulação. Ele jogou fora o veneno das suas mazelas. Assim, demonstrou verdadeiro arrependimento.

3. O recado especial de Cristo (Mc 16.7)

Segundo o texto de Mc 16.7, o anjo de Deus que estava assentado sobre a pedra que fechava o túmulo de Cristo e testemunhou às mulheres que Ele havia ressuscitado, entregou também a elas um recado: “…ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia. Ali o vereis, como Ele vos disse”. Por que Jesus mandou este recado especial para Pedro? Porque Jesus sabia que a essa altura Pedro não se sentia mais digno de ser um discípulo. Pedro havia negado seu nome, sua fé, suas convicções, seu apostolado e seu Senhor.

É maravilhoso saber que Jesus não abre mão do direito que tem de ter-nos para Ele. Ele não abdica do seu direito de ter-nos totalmente. Podemos até cair e pensar em desistir de tudo, mas Jesus jamais desiste de nos amar. Mesmo quando somos infiéis, Ele permanece fiel.

4. O impacto do túmulo vazio (Lc 24.11,12)

Quando Pedro foi informado de que o túmulo de Jesus estava vazio, ele correu e entrou no sepulcro e, ao ver os lençóis de linho, retirou-se para casa, maravilhado do que havia acontecido. O poder da ressurreição foi mais um instrumento que Deus usou para levantar Pedro da sua queda. O triunfo de Cristo sobre a morte, o diabo e o inferno deixou Pedro maravilhado. A mesma mão que abriu o túmulo de Cristo abriu também os olhos de Pedro.

Pedro tornou-se um pregador ousado depois da sua restauração. Sua mensagem central era mostrar que o Cristo que foi crucificado triunfou sobre a morte. A ressurreição de Cristo tornou-se a grande bandeira da mensagem de Pedro.

5. A pergunta especial de Cristo (Jo 21.15-17)

Pedro saiu de Jerusalém e foi para a Galiléia como Cristo ordenara. Naquela longa jornada, a consciência de Pedro o acusava. Ele pensou que Cristo iria lançar-lhe em rosto o seu fracasso. Mas a única pergunta de Cristo a Pedro foi: “Simão, filho de João, tu me amas?” Essa pergunta foi repetida três vezes, porque três vezes Pedro negou a Cristo. O Senhor não humilhou Pedro. Ele não esmaga a cana quebrada nem apaga o pavio que fumega. Jesus não lançou no rosto de Pedro seus fracassos. Antes, deu-lhe a oportunidade de reafirmar seu amor e reiniciar o seu ministério.

È interessante perceber a riqueza do original grego, pois Jesus usou a palavra ágape nas duas primeiras perguntas: Agapas me. Pedro respondeu a ambas: Philos se. Phileo descreve um amor de amigo, inferior ao amor ágape. Pedro tinha sido autoconfiante antes de sua queda. Agora, havia aprendido a lição. Não ousava fazer promessas para depois quebra-las. Na terceira pergunta, Jesus mudou a palavra. Perguntou-lhe: Phileis me? Ou seja, Pedro você gosta de mim? Pedro entristeceu-se e deu a mesma resposta: Philo se.

Jesus é tão cuidadoso em seu amor que armou o mesmo cenário da queda de Pedro para restaurá-lo. O evangelho de João só descreve duas fogueiras. A primeira foi o palco da queda de Pedro; a segunda, o cenário da sua restauração. Cristo queria curar as memórias amargas de Pedro. Ali onde tudo havia começado, deveria ser o lugar mais apropriado do seu recomeço.

Nele, em que a restauração sempre será maior e melhor do que a queda,

Autor: Hernandes Dias Lopes

Adaptado por: Marcelo Oliveira
.

OS 4 DEGRAUS DA QUEDA DE PEDRO


Antes de Pedro tornar-se um apóstolo cheio do Espírito Santo, um pregador ungido e um líder eficaz, revelou sua fraqueza e chegou ao ponto de negar a Jesus. Pedro caiu, suas lágrimas foram amargas, mas sua restauração foi completa. A queda de Pedro passou por alguns estágios. A seguir, mostraremos os 4 degraus de sua queda.


1. Autoconfiança
(Lc 22.33)


Quando Jesus alertou Pedro acerca do plano de Satanás de peneirá-lo como trigo, Pedro respondeu que estava pronto a ir com Ele tanto para a prisão como para a morte. Pedro subestimou a ação do inimigo e superestimou a si mesmo. Ele pôs exagerada confiança no seu próprio “eu”, e aí começou sua derrocada espiritual. Este foi o primeiro degrau de sua queda.

Estamos vivendo o apogeu da psicologia de autoajuda. As livrarias estão abarrotadas de obras que nos ensinam a confiar em nós mesmos. O cristianismo diz exatamente o contrário. Somos fracos e limitados. Não podemos andar escorados no bordão da autoconfiança. Precisamos mais da ajuda do alto do que a autoajuda.

2. Indolência (Lc 22.45)

O mesmo Pedro que prometeu fidelidade a Cristo e a disposição de ir com ele para a prisão e a morte, agora está cativo do sono no jardim do Getsemani no auge da batalha. Faltou-lhe a percepção da gravidade do momento. Faltou-lhe vigilância espiritual. Estava entregue ao sono em vez de guerrear com Cristo contra as hostes do mal. A fraqueza espiritual de Pedro fê-lo dormir e, ao dormir, fracassou no teste da vigilância espiritual.

As palavras de Pedro eram de confiança, mas suas atitudes, trôpegas. Promessas desprovidas de poder evaporam na hora da crise. O sono substituiu a autoconfiança. O fracasso se estabeleceu no palco da arrogância.

3. Precipitação (Lc 22.50)

Quando os soldados romanos, liderados por Judas Iscariotes e pelos principais sacerdotes, prenderam a Jesus, Pedro sacou sua espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote. Sua valentia era carnal. Porque dormiu e não orou, entrou na batalha errada, com as armas erradas e a motivação errada. Pedro deu mais um passo na direção da queda. Ele deslizou mais um degrau rumo ao chão. Nossa luta não é contra carne e sangue. Precisamos lutar não com armas carnais, mas sim com armas espirituais.

Precisamos entrar nessa guerra com os olhos no céu e os joelhos no chão. Precisamos despojar-nos da autoconfiança para recebermos o socorro que vem do alto.

4. Seguia a Jesus de longe (Lc 22.54)

Depois que Cristo foi levado para a casa do sumo sacerdote, Pedro mergulhou nas sombras da noite e seguia a Jesus de longe. Sua coragem desvaneceu. Sua valentia tornou-se covardia. Seu compromisso de ir com Jesus para a prisão e a morte foi quebrado. Sua fidelidade incondicional ao Filho de Deus começou a enfraquecer. Não queria perder Jesus de vista, mas também não estava disposto a assumir os riscos de sua ligação com Ele.

Ainda hoje há muitos crentes seguindo Jesus de longe. Ainda guardam certo temor de Deus, mas ao mesmo tempo anestesiam a consciência vivendo em práticas erradas. Dizem-se seguidores de Cristo, mas seus pés estão fincados nas sendas sinuosas que desviam do caminho da verdade. Dizem amar a Deus, mas suas atitudes e obras provam o contrário. Estão na igreja, mas ao mesmo tempo, estão no mundo. Freqüentam os cultos, mas o coração está longe do Senhor.

Ao olharmos para a vida de Pedro, estamos diante do espelho. Muitas vezes somos como Pedro. Mostramos autoconfiança, não oramos, somos precipitados e, seguimos Jesus de longe. Todavia, não podemos perder o foco. O Eterno não desiste de nós, assim como não desistiu de Pedro. Como diz o lindo cântico: “Eu quero voltar ao primeiro amor”! Que seja assim, para a glória Dele. Amém!

Rev. Hernandes D. Lopes

Adaptado por: Pr Marcello Oliveira
.

SE DEUS É BOM, PORQUE ENTÃO EXISTE O MAL?


Talvez você já ouviu falar do “Problema do Mal”. A expressão se refere à mais difícil pergunta da história da teologia cristã: Se Deus é onipotente e bondade, por que ele permite a existência do mal e do sofrimento? Afinal, o que quer a expressão “Problema do Mal”? Antes de tudo, é importante reconhecermos que o mal não é necessariamente um problema no sentido filosófico do termo. O conceito de problema pode ser invertido aqui. Por exemplo, uma perspectiva pessimista e ateísta que afirma a realidade do mal como experiência básica da realidade e nega o divino e o bem, teria de enfrentar o “problema do bem”. Explicando melhor: “se o universo não tem propósito e é absurdo (como sugerem alguns existencialistas ateus, por exemplo), como explicar a experiência do belo, do inefável e do prazer”? Não seria esse um grande problema filosófico? Como disse o famoso biblista autraliano Francis I. Andersen: “A rigor, a desgraça humana, ou o mal em todas as suas formas, é um problema somente para a pessoa que crê num Deus único, onipotente e todo amoroso”. Isso significa que outras religiões e filosofia não enfrentam um dilema, no sentido de terem de explicar a existência do mal. Mesmo assim, o mal ainda permanece um problema para todos os sistemas de pensamento por causa da questão do sofrimento.

A tentativa cristã de lidar com esse tripé “Deus todo-poderoso”, “Deus todo-amoroso” e “existência do mal”, mostrando que a despeito do mal, Deus continua justo, bom e poderoso foi historicamente denominada Teodicéia. A palavra foi cunhada em 1710 pelo filósofo alemão Gottfried Leibnitz (1646-1716). Seu sentido é “justificação de Deus” (do grego theós “Deus” e dikê “justiça”). A dificuldade do problema foi bem definida pelo filósofo escocês David Hume (1711-1776) numa retomada do antigo filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.). Conforme escreveu David Hume: “As antigas perguntas de Epicuro permanecem sem resposta. Quer ele (Deus) impedir o mal, mas não é capaz de fazê-lo? Então ele é impotente (i.e, não é onipotente). Pode ele fazê-lo, mas não o deseja? Então ele é malévolo. Não é ele tanto poderoso como o deseja fazê-lo? De onde, pois, procede o mal?

O problema do mal também é discutido e compartilhado pelo judaísmo e islamismo. A importância da discussão na tradição judaica foi expressa por Nachmânides quando se referiu ao problema do mal como “a questão mais difícil que se encontra tanto na raiz da fé quanto da apostasia, com a qual estudiosos de todas as épocas, povos e línguas têm lutado”.

Historicamente, na tentativa de construir-se essa explicação que procura manter a justiça de Deus diante do mal, vários tipos básicos de teodicéia foram elaborados. Os principais tipos respondem ao problema assim:

A Teoria do Livre-arbítrio

É a posição clássica das religiões monoteístas. Ela afirma que Deus permite o mal e o utiliza para fins bons. Deus permite o mal para produzir um bem maior. Nunca foi elaborada solução mais razoável e esperançosa do que a judaico-cristã. Para explicar a origem do mal, afirma-se que o mal sempre seria uma possibilidade, visto que Deus criou seres dotados de vontade livre. E para que fossem de fato livres, e não máquinas, tais seres sempre teriam a possibilidade de optar contra a vontade de Deus, dando assim origem ao mal. Portanto, a única saída para a impossibilidade plena do mal seria a inexistência de seres pessoais livres, o que nos daria um universo mecanicista, composto de seres impessoais, destituídos de arbítrio. Os defensores dessa posição ainda argumentam que Deus apenas permite o mal, o que é diferente de ser autor direto do mal, por razões e finalidades boas que não compreendemos plenamente agora. Evidentemente, a força desses argumentos depende de suas pressuposições. O argumento teísta clássico afirma que o mal pode ter início no bem, embora isto nunca seja de modo essencial. Não há derivação essencial do bem para o mal. Isso é compreensível, pois segundo o teísmo clássico o mal não existe enquanto substância, conforme mostrou Agostinho, ou seja, o mal não possui existência plena. É como a ferrugem que atinge o ferro. Não existe um ferro totalmente enferrujado, pois esse deixaria de existir. Assim como a ferrugem existe em função do ferro como elemento parasita e destruidor, também o mal só existe em função do bem.

A Teoria Pedagógica

Numa teodicéia pedagógica o enfoque é deslocado da origem do mal e é colocado principalmente nos possíveis bons resultados da experiência do sofrimento. A idéia é que a experiência do sofrimento (mal) é um benefício indispensável para o desenvolvimento das capacidades humanas, do contrário a humanidade permaneceria eternamente na infância. Argumenta-se, por exemplo, que um pouco de sofrimento aumenta a nossa própria satisfação com a vida e que um sofrimento maior e mais intenso desenvolve em nós uma maior profundidade de caráter e de compaixão. Além disso esta posição enfatiza a realidade de que vivemos em um mundo regulado por leis naturais e que boa parte do mal existente no mundo decorre da atuação destas leis. Deveria Deus ter criado um mundo desprovido de ordem natural para satisfazer a vontade de cada um? Isso seria bom? Todavia, há duas grandes dificuldades aqui: 1) nem sempre o sofrimento produz maturidade e aprendizado. Muitas vezes o que fica é ódio e amargura; 2) em alguns casos não há muito o que aprender e o preço pago é muito alto. Quando milhares de pessoas morrem em uma guerra, devemos perguntar: que tipo de pedagogia é essa que mata seus próprios alunos?

A Teoria Escatológica

Uma teodicéia escatológica diz que há esperança para o problema, pois ela está baseada na convicção de que a vida transcende a morte e que justiça e injustiça receberão sua devida recompensa. As perspectivas variam desde uma esperança entre o inaugurar de uma nova história humana por meio da ressurreição ou ainda como uma vida em um reino celestial após a morte. O futuro tem a resposta e a solução do que acontece no presente. Apesar de essa ser uma das esperanças mais enfatizadas pelas religiões monoteístas, muitos descartam esta possibilidade e questionam que tipo de reparação pode haver pela desgraça atual. Alguém que teve sua família arruinada e assassinada repentinamente pode de fato ter tal sofrimento “reparado”? Será possível isso?

A Teoria da Teodicéia Protelada

É uma postura de expectativa e fé em Deus a despeito do mal. A fé na soberania e bondade finais de Deus espera a compreensão de todas as questões. A diferença entre essa teodicéia e a teodicéia escatológica é a seguinte: na teodicéia protelada espera-se mais uma compreensão do que uma compensação final do mal. Argumenta-se que as limitações humanas e a tremenda distância que separa Deus do homem não nos permitem conhecer as razões da permissão do mal agora. Deve-se destacar ainda que tal posição também é diferente da idéia que sugere ser impossível avaliar o comportamento de Deus.

A Teoria da Teodicéia de Comunhão

Para muitos, a experiência do sofrimento leva o homem a encontrar motivos para romper com o divino. Essa é, por exemplo, a fonte do ateísmo, do agnosticismo e do antagonismo religioso. A Teodicéia de Comunhão enfatiza que Deus é principalmente percebido e conhecido no sofrimento. O Deus verdadeiro é aquele que se compadece. É o Deus que sofre com suas criaturas e que, de certa forma, é vítima do mal, juntamente com elas. Esta teodicéia não explica o sofrimento imerecido. Todavia, transforma a visão sobre o sofrimento, pois o sofrer por um propósito justo é fazer a vontade de Deus e torná-lo conhecido. O sofrimento é a grande oportunidade para Deus e o homem entrarem em comunhão e colaboração. O sofrimento é transcendido e aquilo que parecia ser o pior é visto como a ocasião da mais intensa experiência religiosa.

A Rejeição da Resposta Cristã

No panorama da história, muitas correntes de pensamento apresentaram soluções alternativas para o problema, sem a intenção de justificar a Deus. Vamos apresentar um resumo daquelas posições filosóficas que tratam o problema do mal com um enfoque distinto do teísmo ou da teodicéia. As diversas propostas de resolução das relações entre o divino e o mal serão delineadas, destacando os seus principais representantes.

Alguns Negam a Existência do Mal

O Mal é visto como ilusão. Essa perspectiva é encontrada em conceitos monistas e panteístas. A tensão entre Deus e o mal é resolvida pela negação do mal. A cosmovisão hindu (ensinos Vedanta), Zenão (336-274 a.C.) e Spinoza (1632-1677) são exemplos desta perspectiva. Spinoza, por exemplo, chega a afirmar que o mundo parece cheio de mal apenas porque é visto de uma perspectiva humana estreita e errônea. Da perspectiva divina, porém, o mundo forma um todo necessário e perfeito. A dificuldade dessa posição é provar que os sentidos não merecem confiança alguma, visto que eles apontam para a realidade objetiva do mal. Além disso, os defensores dessa perspectiva precisam responder por que tal “ilusão” é tão comum e se mostra persistente na história humana? Que conhecimentos nos levam a tal conclusão? Seria tal conclusão uma ilusão também?

Alguns Negam a Existência de Deus

Essa é a perspectiva do ateísmo. É a negação da realidade de Deus. Os ateus opõem-se diretamente aos “ilusionistas”. Afirmam a realidade do mal com base nos sentidos e negam a realidade de Deus, cuja existência é incompatível com o mal. O pensamento ateísta sistematizado desenvolveu-se nos últimos dois séculos de história da filosofia ocidental, fruto do racionalismo. Os principais argumentos ateístas são: 1) Deus e o mal são mutuamente excludentes: se o mal existe, logo Deus não pode existir; 2) Se Deus existisse, ele não seria Deus propriamente dito, pois carece de bondade por permitir o mal; 3) Se Deus existisse ele não seria Deus propriamente dito, pois carece de poder visto que permite o mal.

Essa perspectiva é encontrada no budismo que pressupõe uma alienação entre o homem e o universo. O universo é impessoal e opera por causa e efeito. Não existe a figura de Deus, o sofrimento decorre da vontade humana e a sua solução se dá de maneira individual e existencial. Por isso o budista anseia pelo estado impessoal no nirvana. Esse pessimismo também encontra exemplos no pensamento grego clássico. Hegesias de Cirenaica ensinava ser a vida sem valor e que o único bem, que nunca seria alcançado, seria o prazer. Todavia esse pessimismo não marca o pensamento helênico propriamente dito que, de modo geral, acreditava na vitória sobre o mal por meio da virtude e da sabedoria.

É no pensamento europeu contemporâneo que encontraremos um exemplos dessa posição: Arthur Schopenhauer (1788-1860). Há também filósofos existencialistas ateus que enfatizam o absurdo da realidade, vendo o homem como um ser sem saída. Os principais são Jean Paul Sartre (1905-1980) e Albert Camus (1913-1960), famoso por sua obra “A Peste”. Schopenhauer cria que a realidade última é a cega vontade irracional de viver que a todos impulsiona. Tal vontade transcendental é essencialmente má, particularmente pelo fato de haver criado o nosso corpo com desejos que não podem ser satisfeitos. O sofrimento é causado pelo desejo incessante que nunca pode ser plenamente atendido. A dor e a ilusão são inevitáveis. A maior tragédia humana é o fato de ter o homem nascido.

Entre o pensamento judaico-cristão e as alegações ateístas têm surgido propostas problemáticas e incompletes que merecem ser mencionadas.

1. Negação da bondade de Deus. Deus pode ser poderoso, mas é visto como mau e comprometido com a desgraça e o sofrimento.
2. Negação do poder de intervenção de Deus. O bem não tem poder infinito sobre o mal. Essa é a posição deísta, da teologia do processo e do teísmo aberto. Fundamenta-se na realidade da persistência do mal. O bem parece não ter poder para destruí-lo.

3. Negação do poder original de Deus. Deus foi obrigado a criar um mundo mau. Deus, sendo limitado, tinha necessidade de criar um mundo e não pode impedir que este fosse mau.

4. Negação da onisciência divina. Deus não podia prever o mal. Deus é criador, e justo, mas não é plenamente onisciente.

5. Negação da imanência divina. Deus não pode ser avaliado pelos nossos padrões morais. Desse modo não é necessário defender sua conduta. Suas ações estão numa esfera de atuação que não podemos julgar.

A verdade é que o Problema do Mal permanece como a questão mais difícil da história da teologia. As outras tentativas de resolve-lo parecem apenas tê-lo complicado ainda mais. A esperança cristã continua afirmando uma mistura das teodicéias aqui apresentadas. Mas a sua essência ecoa por toda a história: Deus permite o mal e o utiliza para fins bons, e Deus permite o mal para produzir um bem maior. Por isso, vivemos pela fé e sempre na esperança.
.